Isabela
Palhares - O Estado de S.Paulo
Colégios
particulares e públicos adotam estratégias para que alunos desenvolvam
cooperação,
No
fim do ano, escolas não esperam que os alunos tenham aprendido só a fazer
contas, interpretar um texto ou saber o nome dos Estados brasileiros. Colégios
particulares e da rede estadual de São Paulo estão adotando estratégias para
que desenvolvam habilidades socioemocionais, como cooperação, empatia, senso
crítico e curiosidade.
“Essas
habilidades estão intimamente ligadas às cognitivas. São elas que potencializam
e aprofundam o aprendizado. A escola que decide trabalhar o lado socioemocional
precisa mudar a sua estrutura, suas aulas. Porque esse não é um trabalho
intuitivo, ele precisa ser planejado. Por isso, os professores têm de ser
capacitados e estar abertos para mudar a dinâmica escolar, dando mais autonomia
aos alunos”, observa Márcia Almirall, orientadora pedagógica do Colégio Santa
Maria, na zona sul de São Paulo.
No
ano passado, a escola capacitou os professores para que as práticas pedagógicas
fossem alteradas em sala de aula. Para os alunos do fundamental 1 (do 1.º ao
5.º ano), as carteiras foram alteradas para facilitar o trabalho em grupo. Os
docentes também são estimulados a darem aula em locais diferentes, como no
pátio ou no jardim.
“Em
todas as disciplinas é possível desenvolver as habilidades socioemocionais, se
nos planejarmos. Então, nas aulas de matemática, todos trabalham em grupos. Em
português, fazem rodas de conversa para discutir a disciplina. Em tudo dá para
trabalhar, se soubermos estimular os alunos da maneira correta”, afirma Márcia.
O
ensino socioemocional foi adotado em 2015, de forma experimental, em 17 escolas
da rede estadual. Para este ano, o número subiu para 145, todas com período
integral e ensino fundamental 1. “Estamos consolidando a ideia de que não é
possível fazer um bom trabalho sem focar nessas habilidades (socioemocionais).
Com o tempo, esse projeto vai ser ampliado para todas as unidades”, diz
Ghisleine Trigo, coordenadora de gestão da Educação Básica da Secretaria
Estadual de Educação. “Se desde cedo os alunos reconhecem o que sentem, eles
ganham mais autonomia para agir diante de situações de conflito. Reduzimos a
vulnerabilidade dessas crianças”, complementa.
Suporte.
A ideia ao desenvolver habilidades socioemocionais nas crianças é dar
ferramentas para que consigam lidar da melhor forma em situações de conflito e
assim reduzir a vulnerabilidade dos estudantes. A escola estadual Professora
Irene Ribeiro, na Vila Carrão, zona leste, foi uma das que recebeu o projeto no
ano passado. Todos os professores foram capacitados para o novo modelo,
aplicado em todas as disciplinas.
Elaine
Carapiá, que dá aula para o 3.ºano, conta que as mudanças fizeram com que o
professor se tornasse uma peça menos central na sala de aula e mais um mediador
para que os alunos tivessem mais espaço para tirar dúvidas e aprender com os
colegas. As aulas também falam sobre os sentimentos e como lidar com eles.
“Eles
vivenciam situações muito difíceis em casa que podem impactar o aprendizado.
Outro dia um estudante disse que os pais estavam brigando e jogaram as alianças
no lixo. O menino, de 7 anos, começou a cantar e aconselhou os pais a se
acalmarem. Ele aprendeu na escola que, quando se está nervoso, é importante
respirar e disse isso para os pais em um momento de conflito”, relata Elaine.
Em
todo início de aula, os alunos se sentam em uma roda para falar como estão se
sentindo. Segundo ela, é importante estimular as crianças a se expressarem para
ganhar confiança. “Mudamos muita coisa. Não temos mais apenas uma relação entre
aluno e professor, mas entre seres humanos.”
Preconceito.
No colégio Pio XII, na zona oeste, os adolescentes do ensino fundamental 2 (do
6.º ao 9.º ano) têm uma vez por semana uma aula em que são estimulados a
trabalhar com as emoções e a abordar temas em que podem ter preconceitos. A
disciplina utiliza dinâmicas em grupo e exercícios em que a turma conta
histórias ou assiste a filmes sobre temas como a morte ou as drogas.
“Percebemos
que, quando eles entendem o que sentem nas mais diversas situações, se tornam
mais tolerantes, prestativos, têm mais empatia com os colegas”, afirma a
psicóloga e professora Patricia Prado.
Para
ela, como as crianças passam a maior parte do tempo no colégio e desenvolvem as
primeiras relações sociais no ambiente escolar, é responsabilidade dos colégios
não só transmitir conhecimento, mas também valores morais e éticos. “Além
disso, um aluno que possa ter problemas em casa ou em se relacionar com os
colegas, e não sabe como lidar com essas situações, vai ter queda no rendimento
escolar.”
No
colégio Eduque, na zona sul da capital, estudantes do ensino fundamental 1
também contam com aulas voltadas para essas habilidades, uma vez por semana.
Com livros e histórias, os professores desencadeiam discussões sobre as
emoções.
“Com
repertórios leves e lúdicos, ensinamos a entender o que é sentir raiva, tristeza,
solidão, felicidade. Com esse conhecimento, eles se tornam mais respeitosos e
compreensivos com os colegas”, observa a coordenadora pedagógica Lucelena
Martins de Souza.
Ao
abordar esses temas, Lucelena considera que os docentes abrem um canal de
confiança e diálogo com os alunos. “Quando eles têm um problema, sabem que
podem contar para nós, que vamos ajudar. Assim, ninguém fica excluído ou sem a
atenção devida.”
FONTE
Isabela
Palhares - O Estado de S.Paulo
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